O coaching ontológico tem como alicerces a trilogia: linguagem, emoções e corpo. Nesta edição vamos falar de como o coaching poderá influenciar a relação com o corpo. Sabe que o corpo também fala? O que nos vem à cabeça quando pensamos em corpo? Certamente pensamos em átomos, compostos químicos, tecidos, órgãos, aparelhos e sistemas. São estas componentes que, na sua estrutura e função, formam e movem o corpo humano.

No entanto, existe a perceção de que o nosso corpo se divide em corpo físico e no corpo projetado. Projeção, psicologicamente falando, é o mecanismo pelo qual o indivíduo projeta inconscientemente fora de si o que experimenta em si mesmo, ou seja, manifesta nas suas obras a sua natureza própria. Daqui para a frente vamos referir-nos ao corpo físico, ao corpo projetado (mente) e ao corpo (sempre que conjugar corpo físico e corpo projetado).

Sendo o corpo físico a conjugação de todos os componentes acima descritos e a forma como “trabalham” para que física e mentalmente tenhamos saúde, o corpo projetado é o resultado da nossa mente ao acumular, em vários contextos, estímulos exteriores que a padronizam e a levam a diversas interpretações (construção de quadros de referência). Ora, quando o corpo físico não acompanha o corpo projetado estamos em desequilíbrio. Que significa isto na prática? Imaginem alguém que tem excesso de peso. Como o interpretará? “Engordo, porque estou sempre muito ansioso.” “Engordo, porque me afundo nos doces sempre que não consigo atingir um objetivo.” “Engordo, porque não tenho tempo para preparar alimentos saudáveis.” “Engordo, porque não tenho companhia para fazer exercício físico.” “Engordo, porque o meu namorado só olha para corpos esculturais e fico muito ansiosa e com medo e isso dá-me ainda mais vontade de comer”. “E aquela tem um corpo perfeito, porque o seu metabolismo é ótimo”. “E aquela veste roupa tão curta só para provocar”. Poderá interpretar com um mecanismo de desculpabilização em que é utilizado o locus de controlo externo, ou seja, tudo o que nos incomoda consciente ou inconscientemente é projetado nos outros para devolver a nós próprios uma “espécie de paz”. E, continuamos na busca incessante de concretizar um sonho, uma etapa, um objetivo. O que nos impede? Porque não começar por refletir no que é o corpo para cada um de nós? Conheço o meu corpo? Existe o corpo perfeito? Perfeito é o corpo escultural ou o corpo saudável? Perfeito é o equilíbrio do corpo (corpo e mente)? Perfeito é não ter vergonha do corpo? Perfeito é ser capaz de tocar no meu corpo, de o acariciar, de o envolver com o outro? Perfeito é não silenciar o meu corpo? Sabemos que, por exemplo, a imagem e a sexualidade são expressões do corpo?
Se o corpo físico estiver em sintonia com o corpo projetado estamos em homeostasia. E quando não está em sintonia? Acontece muitas vezes, porque nos prendemos a um corpo que não consciencializamos e perdemos muito tempo à procura do “ideal” fora de nós. Esta procura do ideal não traz resultados concretos, porque a maioria das vezes é exterior. Ora, urge encontrar a nossa natureza própria de corpo (interior) para depois projetar quem somos (exterior). O desequilíbrio entre o corpo e a mente poderá impedir-nos de viver uma vida plena. Seja lá o que significar “vida plena” para cada um de nós.

Conjugar, em coaching, o corpo, a linguagem e as emoções poderá reprogramar a natureza de nós próprios que, muitas vezes, nos impede de concretizar sonhos.

A consciência de si fará a diferença!

«O corpo deve encontrar-se não só na atividade, mas também no repouso, libertar-se da pressão do imediato, do peso das solicitações, abrindo-se em certos instantes sem porquê, como o místico dizia que florescem as rosas. Encontraremos então, finalmente, tempo para contemplar, para deliciar-nos com a audição e o sabor, para sentir o perfume daquilo que passa, para tocar, ou quase tocar, aquilo que permanece.» José Tolentino Mendonça.
«O corpo é a vagina da alma.» Carlos Dossi, (1849-1910).